Palavras apócrifas / Cartas do meu castelo
Cartas do meu castelo / Palavras apócrifas
Diáro de Alba - Diari d' Alba
Olhar... e ver
Pensar Diverso e Outras Claridades
Conversa de Cavalos
O último Silvo do vapor
O Cão da Bela Adormecida
Antologias e Colectâneas
Dez anos de S. João
RÓMULO, Nome de Código
Lis & Lena (Saga Imaginária)
Tripeça
Uma frutinha boa... outra com bicho
Renascer em Córdova
In pulverem
O Legado de Mireia
Poema de Outono
O alto espaldar da cadeira de verga
O Odres
Boa viagem e até amanhã...
Cerco de arame farpado
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Olhar... e ver Não editado
OLHAR E VER (revista aos professores do I.I.P) Por A. da Mota Barbosa (1961) = Luís da Mota (=> 1962 <1998) = Luís Vieira da Mota (> 1999)
Personagens (por ordem de entrada em cena)
Compère (Comp) → J. M. Neto Alves Zé-Cabulão (Zé.C) → J. Esteves Zé-Picão (Zé.P) → J. Cirino 1º, 2º, até 29º aluno (Al) → Diversos Encenador → Mário Jacques
Cena (Entrada do I.I.P.) Porta ao canto direito alto e entrada pelas escadas da esquerda baixa
ACTO ÚNICO Comp – (Já está no palco quando abrir o pano) olhando o quadro dos avisos (ri) – Lindas notas, não há dúvida; faltas, número sem conta. E esta, e esta aqui! (lê) Aviso: são os alunos obrigados a justificarem as suas faltas perante o Conselho de Curso. (ri) Agora vão ensiná-los a serem mentirosos. Zé- C – (entrando)
De pé, de pé, cavalheiros! Vão chegar os professores Com frases, gestos brejeiros, Com notas, chumbos, horrores.
Com suas manias tolas Com dramáticas promessas De transformarem em bolas De chumbo nossas cabeças.
Co’as ampulhetas dos exames A marcar o tempo extenso No qual água meteremos Num bom estiquete imenso.
Comp – Venha cá, seu estudante: Que diz você para aí? Têm mestres assimtão maus Conforme as frases que ouvi?
São assim tão paertados Vossos exames finais, Que andais todos descorados, Tremeis tanto que é demais!
Criticais os professores de pouca honrosa maneira; Não achais que bons louvores Merece a sua carreira?
Zé- C – Você gaba esses sujeitos?! Por certo nunca estudou, Se não lhes dava os mesmos preitos Que aqui hoje dar-lhes vou.
Comp – Veja lá se algum o ouve E, daqui por mais um mês, Lhe dará um oito ou nove Em lugar de dar-lhe dez
Zé- C – Tenho a isso pouco medo; Olhe cá, queira escutar: Eu conheço um bom segredo De passar a copiar.
Tenho alguns que bem protestam Não deixarem copiar Tiram livros e atestam Ser fiscais a vigiar.
Quantos mais cuidados têm ‘inda são mais enganados: Julgando que tudo vêem… Esquecem bolsos recheados.
Comp. – Mas então que vida é a vossa, Que tão difícil dizeis? Afinal é fazer troça De tudo quanto aprendeis!
Criticais os professores, As matérias criticais; Em nada vedes primores, Afinal p’ra que estudais?
A caderneta só faltas Nas suas folhas regista; E só notas pouco altas As pautas mostram à vista.
Zé- C – Irei zangar-me consigo Se nossa vida difama; Nós vemos primores, amigo, Em ficar manhãs na cama.
E as tardes são flores Se passadas num cinemas, Ou então gozando amores Com mui formosa pequena.
E as noites nos cafés Num bilhar carambolando, Ou tintos, brancos, roses Com delícia despejando. Eis os primores, amigo, Que há na vida de estudante; E venham todos comigo P´rá brincadeira constante.
Comp – Linda vida, sim senhor! Mas vou com você também Apreciar o primor Que a vossa folia tem.
Zé- C – Comecemos nossa festa como há pouco anunciei) Revisando a seita mestra De que há pouco vos falei.
Comp – Enfim, você teima em criticar os professores. Já é cisma! Zé- C – Que quer que lhe faça? Não posso ver! Comp – Porquê? Têm-lhe dado más notas? Zé- C – São uns injustos! Comp – Perdoe, como é que você se chama? Zé- C – Os meus colegas chamam-me Zé-Cabulão. Comp – E porquê? Zé- C – Por eu estudar só nas horas vagas. Comp – Então não são os professores que são injustos, o amigo é que não estuda. Zé- C – Ó meu caro, quando alguém tem más notas, é sempre o professor que é injusto. Comp (para a assistência) – Isto é que eles são!.... Zé- P (entrando) – Do que estais falando? Da barraca das farturas? Zé- C – Não. Da injustiça dos professores. Zé- P – Tu é que não estudas! Zé- C ( ao Comp) – Ah! Já me esquecia dizer-lhe: este é dos aplicados. Eu, cá por mim, prefiro dizer que é dos graxas… Zé- P – E tu um cabulão de marca, que não nos deixa sossegados nas aulas, sempre a atirar papelinhos. Zé- C – Ora, ora! O que tu queres é fazer ficha. Comp (Conciliador) – Vá, não discutam. (a Zé-P) Mas você falou em barrraca de farturas. Que é isso? Zé- P – É uma sala nova, pré-fabricada em aglomerados de madeira. (nota actual - foi nessa sala, antes de entrar ao serviço, que foram pintados os cenários desta récita) Zé- C – Tem mais aspecto de tasca do que de sala sala de aulas. Se me deixassem vender ali maduros e verdes, deixava já de estudar. Zé- P – Infelizmente terias muita freguesia. Zé- C – E infelizmente porquê? Zé- P – Porque mais facilmente iriam para lá do que para as aulas. Zé- C – Chama-lhes tolos, Zé-Picão! Se o tinto te faz mal aos estudos… Deixa os estudos, como dizia o outro. Zé- P – Sois uns bêbados! E sempre a meter cunhas! Zé- C – E vós uns graxas. Zé- P – Criticais os professores. Zé- C – Não somos como vós: uns impostores. Zé- P – É melhor engraxar do que passar à força de cunha. Zé- C – És um burro: não vês que isso dá mais trabalho? Zé- P – Sois uns preguiçosos. Zé- C – E vós, muito hipócritas. Comp – (Conciliador) – Vá, senhores, mais camaradagem. Nem parecem colegas: Zé- P – E não somos: eu sou estudioso e ele é um cábula. Zé- C – Até tinha vergonha de ser como tu, marrão de uma figa! Zé- P – E eu tenho vergonha que sejas da minha turma. Comp (à assistência) – Vão lá conciliar os cábulas com os aplicados! (aos dois) Senhores, deixem-se de discussões. (a Zé-C) Então, a festa que nos prometeu? Zé- C – Ah! A revista aos professores. Zé- P – Não to permitirei!. Merecem-me todo o respeito. Zé- C – Mas eu quero descobrir-lhes os podres. Hão-de ser criticados. Comp – Proponho uma soloção. Zé-C e Zé-C – Qual? Comp – Montemos um tribunal. Eu serei o juiz. Ali o Zé-Cabulão será advogado de acusação e o seu Zé-Picão será o advogado de defesa. Chamaremos colegas vossos que sejam testemunhas. De acordo? Zé-C e Zé-C – De acordo. Comp – Arranjem quatro cadeiras e uma mesa. (saem os dois)- Espero que me vou rir. Isto de estudantes, é claro: há os que estudam e os que, mesmo não estudando muito, são bem vistos pelos professores e os outros. Disto é facto, derivam ciúmes e atritos. (os dois entram com os objectos pedidos) Zé- C – Pronto! Cá está o material requisitado. (colocam a mesa de frente para a assistência, do lado das escadas, três cadeiras atrás da mesa e uma à frente, mas de lado para a assistência) Comp (com tom enfático) – Sentemo-nos e juremos falar a verdade. (senta-se na cadeira do meio) Zé- C – Juro defender a verdade (àparte) a verdade da mentira. (senta-se) Zé- P – Juro defender a verdade (àparte) a verdade p’ra engraxar. (senta-se) Zé- C – Meritíssimo Juiz, eis o rol dos acusados. (entrega um papel ao Comp) Comp (lendo do rol) – Primeiro: Sr. Lima dos Ares (Nota actual – por sugestão de Mário Jacques, sempre que o Juiz intimava um acusado, desfilava pela boca de cena um figurante imitando os gestos mais característicos do caricaturado) 1º- Al – (Entra e senta-se na cadeira vaga, à frente da mesa) Comp – Fale
1º- Al – Esse mestre é amante grande De teorias elevadas Querendo no primeiro ano Integrais e derivadas. (foram cortados os dois versos seguintes) E nas aulas aparece Depois das horas passadas.
Zé- P – Mentira! Zé- C – Verdade. Comp – É verdade que é mentira? Zé- P – É mentira que é verdade. Comp – Deixemos isso para depois (ao 1º- AL) Pode retirar-se. O 2º réu é o Sr. Peras que a Ama Deu. (o 2º-Al entra e senta-se) Fale.
2º- Al – Esse, no quadro a escrever, É perfeito maquinismo, Nós não conseguimos ver Nem sequer um algarismo, “Vem cá, moço”, é seu dizer Repleto de cinismo.
Zé- P – É falso! Zé- C – É falso, é. É muito falso… Comp – Mas é falso o quê? Zé- C – O Zé-Picão falar verdade. Comp – (autoritário) Não comecem outra vez. (ao 2º- Al) pode retirar-se. O 3º acusado é o Sr. Celeste Hino das Maias. (O 3º Al entra e senta-se) Que tem a depor?
3º- Al – Que ao lembrar-me desse agora Muitos zeros me recorda E que as fraudes não permite, Com as cópias não concorda,
Fraude ou disso tentativa, Avisou ele mui sincero, Há-de ter sanção activa: Expulsão da prova e zero
Zé- P – É um professor a´s direitas: com esse não copiarás nunca. Zé- C – Nem tu meterás cunhas… nem graxa. Comp – (com enfado) À frente que tenho pressa. Pode retirar-se. 4º Acusado: Sr. Lanho de Barbas. Zé- C – Esse é devagar se vai ao longe.
4º- Al – E duas palavras usa, Ouvi-las é já calvário, Pois constantemente abusa: Do “é claro” e “ordinário”.
Zé- P – E que mal tem isso? Zé- C – É um vício. Zé- C – Olha quem fala! Vícios tens tu, e muitos: Fumas, bebes, jogas, faltas e outro que não direi aqui. Comp – (sorrindo) Tá bem, Tá bem! Pode retirar-se. 5ºacusado: o Sr. Que Ousa Ser Machado
5º- Al – Esse é aquele tal que profere As lições que fazem sono; Se dá aula uma semana, Deixa outra ao abandono E “O Homem e a Sociedade” É a frase de que é dono.
Zé- C – Mentira! Zé- P – Agora concordas comigo. Zé- C – É mentira… sim, é mentira que não concordo. Comp – Muito bem. Pode retirar-se. 6º Acusado: Sr. Custa Ter Ódio a Guimarães.
6º- Al – Esse mestre seu chapéu Bem puído deve ter, Pois nos tira chapeladas Em um momento qualquer.
Mais que as lições que ministra Mímica ensinar ele sabe, Pois sua figura sinistra Com tentos gestos não cabe.
Zé- P – Aí está! Mostra consideração por nós. Zé- C – Pois! O busílis é as notas… e as netas. 6º- Al – E a Guerra Zé- C – E os trinta e oito anos de serviço civil e militar 6º- Al – E a Liga dos Combatentes. Comp – Que qerem dizer com isso tudo? Zé- C – que só disso fala nas aulas. Zé- P – Refinadíssima mentira! Zé- C – Claro que fala de mais coisas: no nível de vida 6º- Al – Diz que o livro é uma espinha dorsal… Comp – Não nos demoremos mais. Pode retirar-se. 7ºacusado: Sr. Tónico de Trigo.
7º- Al – Esse mestre fala baixo, Com voz tão pouco sonante, Que requeiro á sua sala Um potente altifalante. E prefere, aos portugueses, Livros que sejam franceses.
Zé- C – O que nos enrasca bastante. Zé- P – Porque não sabeis nada de nada. Zé- C – Da língua francesa só me interessa dizer “je t’ aime” Zé- P – Só te interessam as mulheres! Zé- C – E a ti? Zé- P – A mim não. Zé- C – Então o que t e interessa? Zé- P – Os (pliçando) livros Comp – (enigmático) Continuemos. Pode retirar-se. 8º réu: Sr. dois Dias na Costa da Serra.
8º- Al – Esse berros dá, tão fortes, Como nos querendo meter, À força de martelar, Na cabeça o seu saber;
(por sugestão de Mário Jacques foi inserido o diálogo seguinte:
Zé- C – O seu quê? 8º- Al – O seu saber. (que fez do autor persona non grata para o visado)
Também fala de higiene, Da pouca limpeza humana, Lastimando não ligar-se À poeira microbiana.
Zé- P – E tem toda a razão! Zé- C – Olha, olha! Querem ver que este tipo não é limpo! Zé- P – Mais do que tu: não escarro no chão. Zé- C – Nem eu. Eu escarro para o ar. A gravidade faz o resto. Comp – Venha outro que a conversa está a tomar rumos pantanosos.
…………. (primeiro corte para aligeirar a peça. Imposição do Mário Jacques, com razão)
10º acusado: Sr. Carros de Ferro na Eira
10º- Al – Dá aulas que em as ouvindo Escuso quase é estudar, Pois expõe saber infindo Duma maneira sem par.
Mas digo dele outra cousa, Tem paixão pelo desporto: P’ro hóquei o Vigorosa, Para futebol o Porto.
Zé- P – è um bom professor; sabe e ensina bem. Ze- C – É cá dos meus: é desportista. Comp – Ao menos uma vez de acordo. Pode retirar-se. 11º réu: Sr. Luz a Pino.
11º- Al – Com a mão escreve o ar Com a voz fala p’ra si: Se bem disse ou escreveu Sabê-lo não consegui.
Zé- C – Se escreve no ar, não se vê. Escrever no quadro é perigoso… podia sair asneira. Zé- P – Já é mania! Zé- C – O quê? Zé- P – Essa tua de criticar. Zé- C – Ó menino, toda a gente critica. Os livros de curso o que são? Crítica. Até os exames são crítica. Zé- P – Ora essa! Zé- C – São crítica, sim senhor. E os criticados somos…. E fazemos figura crítica. Comp – Senhores advogados: acabaram os professores ordinários. Zé- C – Que é lá isso? Mas há professores ordinários? Zé- P – Pois há. Nem isso sabias, ignorante. Zé- C – E quais são? Comp – Todos os que já julgámos. Zé- C – Então não são todos ordinários? Zé- P – Pois não, ignorante. Zé- C – Eu tinha-os a todos por isso. Comp – (ao 11º Al) Pode retirar-se. Vamos agora mais depressa, sim? Deixem-se de discussões e julgaremos no fim. Sr. Valente Sesta sob a Cerejeira.
12º- Al – Esse marca os problemas Senta-se no banco – e zás – Fecha os olhos, ‘stende o corpo, E encosta-se p´ra trás.
Zé- C – Ora assim é que está bem: pode jogar-se a batalha naval, o 31, as copas, fazer-se palavras cruzadas. Zé- P – e a matéria? Zé- C – É pormenor de somenos importância. Depois pedimos-te os cadernos de apontamentos. Emprestados e devolvidos, claríssimo. Zé- P – Aí está: sois uns parasitas. Comp – Continuando: (ao 12º Al) pode retirar-se. Sr Comboio Mercadorias
13º-Al – Esse é aquele que nunca deixa Ponto ou vírgula escapar; Até do ponto num i Dará conta se le faltar. Zé- P – É assim mesmo, aprende-se português. Zé- C – Aprende quem não souber. Zé- P – Tu aprenderás, apenas sabes calão. Zé- C – Quendo te quero insultar. Comp – Não o insulte aqui. Parece mal. Pode retirar-se. …………………………………………………. (novo corte) Sr. Torce Cactos Maiores no Ribeiro.
15º- Al – Esse a importância nos “Foca” Dos novos regulamentos; Qualquer coisa que façamos, Logo toma apontamentos.
Zé- C – Esta aula parece uma assembleia: discute-se. Zé- P – Parece uma assembleia: não se faz nada. Comp – Ei-los novamente de acordo. ………………………………………………. (novo corte)
Sr. Quem lhas Sirva? Não entendo. 17º- Al – (entra e senta-se) Comp – Que tem a dizer?
17º- AL – É um destes não-te-rales Que no quadro põe problemas, Fuma um cigarro, passeia, E depois nos dá mais temas.
Zé- C – è daquelas aulas que fazem sono, muito sono… (boceja) Zé- P – Tu não te interessas por ela. Zé- C – Perdão. Interesso-me e muito. (Põe ar romântico) Ela é que não se interessa por mim. Zé- P – Queres que te façam a papinha toda. Zé- C – Pois claro! Não sou cozinheiro! Falávamos do quê?
………………………………………………… (novo corte)
Comp – 21º acusado, perdão é acusada: Srª Linda Geração.
21º-Al – Por ser mestra feminina Ninguém falta a essa hora; Sempre o sorriso traquina Da sua boca nos cora.
Zé- C – Caramba! Não serem todos professores como esta!
Comp – (À assistência, piscando o olho) Se querem os estudantes Nas escolas muitas horas, Tirem os mestres pedantes, Troquem-nos por professoras.
Zé- C – Que dizes, Zé-Picão? Zé- P – (Rendido) É verdade. Comp – Adiante! 22º Acusado: Sr. Minhoca de Barro.
22º- Al ¬ “Parteu, pagou”, “Gaita, amigo”, “lista negra”. São os ditos Desse mestre e mais não digo Por os não haver escritos.
Zé- C – “Parteu, pagou”, diz ele. Estragou, pagou. Está tudo velho. Pagamos sempre… e novo. Zé- P – Por falta de cuidado da vossa parte. Zé- C – Da parte deles, que as deixaram envelhecer. Comp – Vamos, vamos. Pode retirar-se. 23º Acusado: Sr. Pinto de Ferro
23º-Al – Uma boa, meus senhores, Agora lhes vou contar: Ele quis… na régua de cálculo Fazer contas de somar!
Zé- C – Ouvem esta? Que tal acham? Eu penso, que sendo assim, Se tais mestres não despacham Temos invenções sem fim.
Zé- P – (desconsolado) É mentira. Zé- C – (carinhoso) Tens razão, desculpa: é mentira… que se façam contas de somar na régua de cálculo Comp – Avante! Essa cá me fica. (ao 23º Al) Pode retirar-se e obrigado pela anedota.
………………………………………………………. (novo corte)
Comp – 27º acusado: Sr. Vai com Selos (entra o 27º Al)
27º-Al – “’Inda não mandei sentar, Ora ponham-se de pé!” Grita lá do seu lugar; Sim, ele sabe mostrar quem é.
Zé- P – E quem é? Zé- C – (abstracto) Panela de pressão. (acordando) Que perguntaste? Zé- P – Quem é ele! Zé- C – É daqueles que gostam de impor a sua personalidade: “os peneirentos.” Zé- P – Tu e o teu calão! És impossível! Zé- C – Tu e o teu purismo! És indigesto!
……………………………………………………. (novo e último corte)
Comp – (socando a mesa) Está encerrada a audiência. Que saiam as testemunhas para o tribunal reunir. (As testemunhas saem) Agora nós. Foram os vossos professores julgados, e propusemo-nos fazer justiça . Zé- P – Juro, pela minha passagem no fim do ano, que serei justo e levarei este tribunal a fazer justiça. Zé- C – Juro, pela minha passagem no fim do ano, que serei justo e levarei este tribunal a fazer justiça. Comp – Então, estando ambos com os mesmos propósitos, suponho que será fácil chegar a um acordo: senhor advogado de acusação, que decreta? Zé- C – Requeiro a condenação. Zé- P – Protesto! Zé- C – Juraste fazer justiça. Zé- P – Também tu. Zé- C – (alto) A justiça é condená-los. Zé- P – Protesto! Zé- C – Não te vale a pena protestar, não é verdade, meritíssimo? Comp – Bem, eu como não sou estudante, por isso neutro, e julgando pelo que ouvi das testemunhas…. Condeno-os Zé- P – Protesto! Zé- C – Ousas protestar a decisão do Dr. Juiz? Zé- P ¬– Ouso! Tu compraste-o, conforme fazes ou tentas fazer aos teus examinadores. Comp – (zangado) Quem julga que eu sou? Zé- P Não sei, nem quero saber. Comp – Imagine que eu era… vá lá, u, inspector. Zé- P – Do que Deus me livre. Comp – Contudo…se eu o fosse? Zé- P – Por amor de Deus, não seja! Zé- C – Mas por quê? Zé- P – Por dizer que se deixaria comprar. Comp – Descanse, não o sou. Condenados ou absolvidos? Zé- P – O senhor é neutro, deve julgar à margem da nossa influência. Comp – Reunamo-nos (juntam-se os três, cochichando)
Zé- C – Eis a nossa decisão (entram todos os alunos)E E como justos jurados Foi geral a opinião: Condenar os acusados.
Condenamos os que faltam Por aulas não virem dar; E também os que não faltam Porque queremos folgar.
Condenamos o que ensina Só porque sabe fazê-lo; E também quem mal ensina Pois queríamos compreendê-lo. Condenado o vozeirão Por os ouvidos ferir-nos; Condenamos o mudão Por sua voz não sentirmos.
Condenamos quem dá notas Que nos façam dispensar E também quem nos dá notas Que nos façam reprovar.
Condenamos tudo e todos P’lo prazer de condenar; Suas frases e seus modos E seus gestos a ensinar.
Zé- P – Isto aqui é assim: “preso por ter cão e por não o ter.” Zé- C – Já aprendeste: O que é preciso é deitar abaixo. Alunos – E qual é a sentença? Comp – A sentença é, como eles gostam tanto de dar aulas, três meses de férias, remíveis a 20 valores para cada aluno nos exames finais Zé- P – Esplêndida sentença! Não estudo mais! Zé- C – Completamente de acordo! Alunos – Viva a Sr. Dr. Juiz…Mas quem é ele, para poder ditar semelhante sentença? Zé- C – Ora quem é o juiz! Não sabeis? Zé- P – Eu não. Zé- C – Pois, meus caros, o juiz foi a Fantasia. Alunos – (desapontados) Oh! Comp – (tira a capa e apresenta-se de branco resplandecente)
Durante o tempo de estudo Sempre fui a fantasia; Depois mudei, como tudo Deverá mudar um dia.
Fui sonho outrora, quimera, Oh! Quantas coisas eu fui! Fui amor, fui primavera E riso; mas tudo alui.
Mas depois mudei; um dia, Ao passar a mocidade…. Deixei de ser Fantasia, Para ser só a Saudade.
Sim: Sou esse sentimento Que todos ireis sentir Por este fugaz momento Em todo o longo porvir.
Sempre fui assim, meus caros, Fantasia em mocidade E nos dias mais amaros Da velhice sou: Saudade.
FIM
© Luís Vieira da Mota
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